quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Resenha Perfume Versace Versense

 O perfume de hoje é uma agradabilíssima criação de Alberto Morillas (e uma de minhas diletas em dias de calor) que é o perfume Versace Versense.
Alberto Morillas tem sido hábil em criar os perfumes frescos do meu coração, lindos e distintos, como é o perfume Omina Green Jade que já resenhei aqui. Dos meus preferidos para o verão! Uma elegância fresca e única.
A criação de Versace Versense é de 2009, mesmo ano da criação do perfume Omnia Green Jade.
Versace, com sua medusa que representa o amor às artes, jungindo culturas grega e italiana, pretendeu com esse perfume nos trazer um iridescente mediterrâneo.
Ao aspirar esse perfume, assim o senti: tão rico, tão multifacetado, tão revigorante. Tem o cheiro do bom agoiro, da lisonja, da fartura. Lembra-nos o bom ar das encostas, os bons ventos montanheses,o sol primaveril e seu poder de cura das encostas escarpadas do Mediterrâneo.
Traz-nos a sensação de passeios com roupas brancas,chapéis protegendo do sol, num campo de flores igualmente brancas, que abundam na terra fértil que é banhada por águas incrivelmente claras, de múltiplos azuis e verdes, aquecidas pelo ar quente que brota do deserto saárico.
O frasco é um ornamento que matiza nossos sentidos, dum claro verdejante e tampo prateado que nos lembra espumas do mar.
E o cheiro que sentimos é sobremodo de saúde e de fome da salutar culinária da região contemplada pelo mediterrâneo.

A abertura é um alegre pomar toscano, com seus citrinos a mão, dourando sob o sol.Mimosas tangerinas, doces limas da pérsia. Essa amável conjuntura cítrica nos envolve e conforta. Logo são acompanhados por um figo em compota, delicioso e suculento,que chega junto de lírios absolutamente frescos.
Sua desenvoltura de repente nos traz um leve amargo do cardamomo, que por vezes nos dão uma impressão de cascos, de bagas e sementes de uvas.
E sua finalização é absolutamente tocante, com o sândalo que aqui se faz cremoso e levemente terroso, cravejado de uma sensação bastante arbórea vinda dos cedros que evocam ainda mais o frescor.
E a oliveira da um toque incrivelmente azeitado, como se tomássemos por fim sumos tônicos de limão e figos pingados de oliva e cardamomo.
É tão incrivelmente elegante, fresco e lisonjeiro que só posso torna-lo ornamental,paisagístico,contemplativo, digno de bebidas ricas abaixo de um sombreiro, dentro de um jardim mediterrâneo, convivendo com bom ares que serpenteiam como medusa, nos revitalizando.
A duração é excelente, como a longeva população mediterrânea, e sua propagação é irradiante como a alegria que emana desses povos.

Ao sentir esse perfume, vem-me a frase: alla tua salute!
Você pode encontrar uma outra resenha desse perfume aqui no blog da querida e competente amiga Diana no A louca dos perfumes!

Fotos: fonte fragrantica,

domingo, 25 de outubro de 2015

Resenha Kelly Calèche de Hermès

Kelly Calèche, obra de Jean Claude Ellena é um perfume de homenagens dignamente cumpridas. Existe nas versões edp e edt, tendo chegado em minhas mãos tão-só a versão edt(e como quero agora a versão edp! )
De antemão percebemos  em suas intenções que se trata de um “labour of Love”, mas aspira-lo é ter uma prova  disso. Essa rosa encourada, tão leve e tão elegante, que leva o nome da famosa bolsa Kelly  de Hermés eternizada  por Grace Kelly assim como também o nome do clássico chique Calèche, carro chefe da marca, é de fato uma criação que me parece ter sido feita de forma muito amorosa, longe da austeridade elegante e magistral de Calèche. Porém é mesmo assim perfume de distinção com proposta imagética, sensorial e intelectualizada, bem ao gosto das criações de Ellena .
Um perfume pode ser tanto contemplativo quanto portável,e acho que é  isso que se  vem aqui buscar.

 Kelly Calèche não se trata de um perfume exatamente romântico.  De certo há algo permeado de anjos . É um “couro angelical”, pois. Mas o  couro  é  naturalista demais para se tratar apenas de romantismo, e isso torna o perfume carnal a contento. Uma rosa encarnada. O couro dá esse aspecto quase luxurioso(como também luxuoso). Porém há  esse aspecto floral magnânimo,  como  o sopro de um balanço de asas de delicadeza angelical:   Um couro de bolsa Kelly, com um monte de rosas frescas a La In Love again  e Rose Ikebana e um volátil pó de Iris e muita mimosa  se oferecendo. Uma visão(ou aspiração) celestial? É de imaginar Grace Kelly portando sua bolsa Kelly Hermès e  o usando? Por certo é possível imaginar que ela o pudesse desfrutar de um perfume com pretensões tão etéreas.
O resultado é um couro para “moças de fino trato”.  Um couro que seria então macio como uma pele de pêssego, cheio de mansuetude.Um couro sutil e naturalista para ingressar nessa nota que pode sim e muito se encorpar.


No fim temos uma despedida levemente enfumarada do vetiver. Rosas, pó  e couro enfumarado no fim  dando um ar de camurça.É perceptível que se trata de um perfume que trabalha bem mais com as notas de coração do que as de fundo(o que também faz muito o estilo de Ellena). Acredito que por isso, e como nada pode ser perfeito, achei que a duração deixou a desejar, mesmo para um eau de toilette. Espero poder encontrar no edp uma melhor duração com o mesmo espírito de couro asado e perfumado.
Como bônus de curiosidade,  Jean Claude Ellena disse ter se inspirado na criação de Kelly Calèche(assim como na criação de Cuir D’ange) no livro  Jean Le Bleu, de Jean Giono, uma obra autobiográfica de Jean Giono que  conta anedoticamente sua vida enquanto amava os cheiros provençais, que por sua vez inspirou o filme “La femme Du Boulanger”, de Marcel Pagnol. Enfim, mais uma vez entendo esse caráter laborioso amoroso do perfume, de inspirações  íntimas  e culturais que acabam por confabular com o público. É com lisonja que recebo esse perfume asado e encourado. Nas borrifadas vivem muitas situações e memórias.
Faz-me querer conhecer com voracidade o perfume Cuir D’Ange, perfume vencedor do Fifi award  de 2015 de melhor perfume exclusivo, assim como também Kelly Calèche edt foi premiado no Fifi award de 2008.
De Jean Le Bleu “Je ne peux passer devant une échoppe de cordonnier sans croire que mon père est encore vivant, quelque part dans l’au-delà du monde, assis devant une table de fumée, avec son tablier bleu, son tranchet, ses ligneuls, ses alènes, en train de  faire des souliers en cuir d’ange, pour quelque dieu à mille pieds.”


Minha resenha em video:

Imagem: Fonte: Fragrantica
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